Caetano Veloso vai bem com a maré dos festivais em show que ganha tributo a Preta Gil na chegada ao Rio de Janeiro
Caetano Veloso em show no Festival de Inverno Rio 2025 na noite de ontem, 3 de agosto Reprodução / Facebook Festival de Inverno Rio 2025 ♫ OPINIÃO SOBRE SH...

Caetano Veloso em show no Festival de Inverno Rio 2025 na noite de ontem, 3 de agosto Reprodução / Facebook Festival de Inverno Rio 2025 ♫ OPINIÃO SOBRE SHOW Título: Caetano Veloso – Festivais Artista: Caetano Veloso Data e local: 3 de agosto de 2025 no Festival de Inverno Rio 2025 (Rio de Janeiro, RJ) Cotação: ★ ★ ★ ★ ♬ “Eu sou apenas um velho baiano / Um fulano, um Caetano, um mano qualquer / Vou contra a via, canto contra a melodia / Nado contra a maré”, se perfilou Caetano Veloso ao dar voz aos versos de Branquinha (1989), música com que tem aberto, na cadência do samba-reggae, as apresentações do show criado pelo artista para seguir em cena no circuito de festivais ao longo deste ano de 2025. Esse show chegou à cidade do Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 3 de agosto – exatamente um ano após a estreia nacional da turnê Caetano & Bethânia (2024) – como a grande atração do último dia do Festival de Inverno Rio 2025. Essencialmente autoral, o roteiro vem sofrendo adições desde a estreia nacional do show no festival Coolritiba em 17 de maio. Na estreia carioca, a adição mais relevante foi um tributo a Preta Gil (1974 – 2025), “grande leonina”, celebrada com o canto de Cantiga de ninar Moreno (1975) – acalanto composto por Gilberto Gil há 50 anos para ninar Moreno Veloso, filho de Caetano – e O leãozinho (1977), canção levada ao violão tocado pelo próprio Caetano. Mesmo sem o status e o conceito de um show de carreira, como o recente Meu coco (2022), o show fluiu bem na Marina de Glória. A quatro dias de completar 83 anos, a serem festejados na quinta-feira, 7 de agosto, o velho baiano se confirmou eternamente jovial e fez apresentação aliciante com roteiro calcado em sucessos. Ciente do que o público quer ouvir em eventos grandes, Caetano vai bem na maré dos festivais com esse show para pequenas multidões. Contudo, no canto da recente Anjos tronchos (2021) – música de hermetismos pascoais apresentada com o efeito mantra do toque da guitarra de Lucas Nunes – e do novíssimo samba-reggae Um Baiana (2025), o que se viu e ouviu foi Caetano indo contra a via, contra a melodia, com a inquietude tropicalista que rege a vida do artista há 60 anos. Com big band orquestrada sob direção musical de Lucas Nunes, o cantor fez show de vibe roqueira. Saudade do Brasil, Gal Costa (1945 – 2022) foi lembrada na pegada do rock que moveu Vaca profana (1984) e Divino maravilhoso (1968), música imperativa ouvida com arranjo evocativo da gravação original da cantora em outra era de festivais. Nessa atmosfera roqueira, Podres poderes (1984) se ambientou com perfeição ao roteiro. O naipe percussivo da big band saltou aos ouvidos nos arranjos de músicas como Cajuína (1979) enquanto o pulso dos metais – soprados por músicos como o trompetista Diogo Gomes e o saxofonista Jorge Continentino – iluminou Eclipse oculto (1983). Já Um índio (1976) desceu luminoso em cena com mix de percussões e metais. Como festivais não são espaços para experimentações, Caetano fez basicamente o que se esperava dele: cantou sucessos infalíveis como a marcha tropicalista Alegria alegria (1967), a festiva Gente (1977), o hit pop Queixa (1982) e o samba de roda Reconvexo (1989), além de ter dado voz a canções populares de lavra alheia, casos de Sozinho (Peninha, 1996) e Você não me ensinou a te esquecer (Fernando Mendes, José Wilson e Lucas, 1978), ambas infalíveis e já devidamente incorporadas ao repertório do cantor. Assim como Sozinho, canção que gerou pico de vendas na discografia de Caetano em 1998, Você não me ensinou a te esquecer ressurgiu como herança do set solo de Caetano no show feito com Maria Bethânia. O arranjo, criado com levadas de samba-reggae, inclusive é o mesmo. A propósito, foi impressionante como, na estreia carioca desse show solo, Caetano pareceu mais leve e relaxado do que nas apresentações com Bethânia. Na seara dos arranjos, merece menção honrosa o arranjo vocal que introduziu a canção Muito romântico (1977) com evocações dos cantos dos corais. Pretinho da Serrinha figurou em cena com status de músico convidado quanto tocou cavaquinho em Desde que o samba é samba (1993). No fim, o samba-enredo É hoje (Didi e Mestrinho, 1981) – apresentado pela escola União da Ilha do Governador no Carnaval de 1982 – cumpriu a apoteose habitual, deixando o clima de festa pronto para o bis com Odara (1977), música adornada em clima de Black Rio. Encerrada a apresentação no festival produzido pela empresa Peck, ficou evidente que, mesmo com show menos ambicioso e mais descompromissado, criado para aproveitar a onda dos festivais, Caetano Veloso não é um fulano, um mano qualquer. Quando quer, o cantor sabe ir muito bem na direção da maré. Caetano Veloso canta sucessos como 'Gente' e 'Linha do Equador' no show criado para festivais Reprodução / Facebook Festival de Inverno Rio 2025